segunda-feira, 11 de setembro de 2023

Correção fraterna, uma questão de sinfonia! - Pe. João mC

 Correção fraterna, uma questão de sinfonia!

 

Ano A - 23º Domingo do Tempo Comum
Mateus 18,15-20: “Se o teu irmão cometer um pecado...”

 

Os trechos do evangelho deste domingo e do próximo pertencem ao Quarto Discurso de Jesus, segundo São Mateus, o discurso eclesial ou comunitário (Mateus 18). Recordamos os anteriores: o primeiro, o Discurso da Montanha (cap. 5-7); o segundo, o Discurso Apostólico ou Missionário (cap. 10); o terceiro, o Discurso das Parábolas (cap. 13). Neste quarto discurso, Mateus recolheu alguns dos ensinamentos de Jesus sobre a vida da comunidade eclesial.

A passagem de hoje trata da “correção fraterna”, no caso de um pecado grave que impede a comunhão fraterna. Há duas versões do texto: uma curta, que sublinha mais a dimensão eclesial: “Se o teu irmão cometer um pecado”, e uma mais longa, que acrescenta “contra ti”, falando de uma ofensa pessoal. A versão escolhida pelo texto litúrgico é a segunda: “Se o teu irmão te ofender...”. 

A passagem é constituída por três ditos de Jesus, interligados. As três leituras deste domingo estão, aliás, interligadas, trazendo mais uma luz ao evangelho, com o profeta Ezequiel colocado como sentinela à frente dos seus irmãos (Ez 33) e S. Paulo a proclamar a caridade como plenitude da Lei (Rm 13, 8-10). 

 

A arte da correção fraterna

A correção fraterna é uma arte que exige caridade e delicadeza, inteligência e tato. Não é fácil falar da correção fraterna. Por três razões. 

A primeira, por causa da dificuldade inerente a esta tarefa. 

A segunda porque, durante séculos, nós, padres, tomámos abusivamente esta tarefa sobre nós, como um “direito” nosso, quando ela é um dever de todo o batizado; além disso, exercêmo-la de forma infeliz e, por vezes, desastrosa. Por isso, em vez de corrigir, devemos deixar-nos corrigir! 

Em terceiro lugar, hoje em dia, falar de correção não é “politicamente correto”; corremos o risco de ir contra a “privacidade” da pessoa e de sermos censurados por nos metermos nos assuntos dos outros. 

Assim, entramos num “campo minado” e preferimos recuar para a crítica, o mexerico ou a indiferença! 

 

1. Uma operação de salvamento!

POR ONDE começar? Do versículo que precede imediatamente a passagem de hoje: “É vontade do vosso Pai que está nos céus que nenhum destes pequeninos se perca” (v. 14). Como ponto de partida, encontramos a vontade salvífica do Pai. Trata-se, portanto, de uma “pedagogia da recuperação” (Papa Francisco). E o objetivo é “ganhar o irmão” (v. 15). Recuperar um filho e ganhar um irmão! É uma operação de.... resgate!

O QUE fazer concretamente? Jesus sugere um método articulado em três etapas graduais, introduzidas pela partícula “se” (5 vezes): primeiro a sós, depois eventualmente com uma ou duas testemunhas e, por fim, se necessário, fazendo intervir a comunidade, até ao caso extremo da (auto)exclusão do irmão da comunidade: “Considera-o como um pagão ou um publicano”, o que não o exclui, contudo, do amor fraterno, porque Jesus era amigo dos publicanos e dos pecadores. 

 

2. Uma ação de fraternidade

COMO FAZER? Qual é a condição essencial para fazer correção? A fraternidade! Fraternizar! A palavra “irmão” no Evangelho de Mateus tem uma importância especial. É interessante notar que é geralmente acompanhada de um adjetivo possessivo: “meu irmão”, “teu irmão”, “meus irmãos"”... O evangelista quer sublinhar o valor relacional que está no centro da mensagem de Jesus: “um só é o vosso Pai” e “todos vós sois irmãos” (Mateus 23,8-9). Ele é o Filho primogénito de uma multidão de irmãos (Romanos 8,29). 

O amor está no centro da relação: Não devais a ninguém coisa alguma, a não ser o amor de uns para com os outros” (Romanos 13,8, segunda leitura). A caridade e a verdade dão-se as mãos, mas a caridade é a irmã mais velha. Na correção fraterna, a verdade em primeiro lugar é como o sol do meio-dia: cega o irmão conduzido para fora do quarto escuro do erro. A caridade, pelo contrário, é como a aurora que conduz gradualmente à plena luz! Corrigir na verdade, mas privilegiando a caridade!

 

3. Uma questão de sinfonia!

AONDE conduz a correção fraterna? À sinfonia da comunhão fraterna! “Se dois de vós se unirem na terra para pedirem qualquer coisa...”. O verbo grego usado aqui por Mateus para unir-se ou concordar (symphonei) é um verbo musical e significa fazer sinfonia, “sinfonizar”! A comunidade é como uma orquestra em que cada um desempenha o seu papel, toca o seu instrumento. Cada um traz uma nota ou um som particular que enriquece a beleza global da sinfonia. Se alguém desafina, não o excluímos, mas “corrigimo-lo”. O Pai, que ama a “sinfonia” criada pela presença do seu Filho, escuta de bom grado este grupo, esta comunidade. E o céu entra em sintonia com a terra: “Tudo o que ligardes na terra será ligado no Céu; e tudo o que desligardes na terra será desligado no Céu”.

Pode acontecer, no entanto, que alguém queira impor a sua voz ou sobrepor-se aos outros instrumentos, provocando desarmonia e desordem. Ou então alguém pretende ser capaz de tocar todos os instrumentos e dispensar a colaboração dos outros. Este protagonismo conduz à passividade, à apatia e ao desinteresse.

Infelizmente, mesmo nesse momento privilegiado de “sinfonia” que deveria ser a Eucaristia, falta muitas vezes este “sinfonizar-se”. Por vezes, as pessoas rezam umas ao lado das outras, justapostas. Repetem-se as mesmas orações e os mesmos gestos, mas não há “um só corpo e uma só alma” (Actos 4,32). Além disso, o presbítero que preside à Eucaristia, que deveria ser como o “maestro da orquestra”, é quase o único protagonista, ocupando 90% da celebração. Temos de facto uma necessidade urgente de “sinodalidade”, de caminhar juntos como povo de Deus.

 

Reflexão para a semana

Convido-vos a meditar e a aplicar a vós próprios o versículo do Aleluia: “Deus reconciliou consigo o mundo em Cristo, confiando-nos a palavra da reconciliação” (2 Cor 5,19). A vocação do cristão é RECONCILIAR!

P. Manuel João Pereira, Comboniano
Castel d'Azzano (Verona) 8 de setembro de 2023

P. Manuel João Pereira Correia mccj
p.mjoao@gmail.com
https://comboni2000.org

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