domingo, 7 de abril de 2024

A Páscoa de Tomé - Pe. Manuel João, MC

 A Páscoa de Tomé 

Ano B - Páscoa - 2º Domingo
João 20,19-31: "Meu Senhor e meu Deus!"

Hoje, segundo domingo de Páscoa, celebramos... a "Páscoa de São Tomé", o apóstolo que esteve ausente da comunidade apostólica no domingo passado! 

Os temas que o evangelho nos propõe são muitos: o Domingo ("o primeiro dia da semana"); a Paz do Ressuscitado e a alegria dos apóstolos; o "Pentecostes" e a Missão dos apóstolos (segundo o evangelho de João); o dom e a tarefa confiada aos apóstolos de perdoar os pecados (pelo que, desde há alguns anos, hoje se celebra o "Domingo da Divina Misericórdia"); o tema da comunidade (da qual Tomé esteve ausente!); mas sobretudo o tema da fé! Detenho-me apenas na figura de Tomé.

Tomé, o nosso gémeo

O seu nome significa "duplo" ou "gémeo". Tomé tem um lugar de destaque entre os apóstolos; talvez por isso lhe tenham sido atribuídos os Actos e o Evangelho de Tomé, apócrifos do século IV, "importantes para o estudo das origens cristãs" (Bento XVI, 27.9.2006). 

Gostaríamos de saber quem é o gémeo Tomé. Poderia ser Natanael (Bartolomeu). De facto, esta última profissão de fé, feita por Tomé, corresponde à primeira, feita por Natanael, no início do evangelho de João (1,45-51). Além disso, o seu carácter e comportamento são muito semelhantes. Finalmente, os dois nomes aparecem relativamente próximos na lista dos Doze (ver Mateus 10,3; Actos 1,13; e também João 21,2). 

Este anonimato permite afirmar que Tomé é "gémeo de cada um de nós" (Don Tonino Bello). Tomé conforta-nos nas nossas dúvidas de crentes. Nele nos espelhamos e, através dos seus olhos e das suas mãos, também nós "vemos" e "tocamos" o corpo do Ressuscitado. Uma interpretação que tem o seu encanto!...

Tomé, um "duplo"?

Na Bíblia, o par de gémeos mais famoso é o de Esaú e Jacob (Génesis 25,24-28), eternos antagonistas, expressão da dicotomia e da polaridade da condição humana. Será que Tomé (o "duplo"!) traz em si o antagonismo desta dualidade? Capaz, por vezes, de gestos de grande generosidade e coragem, outras vezes é incrédulo e teimoso. Mas, quando confrontado com o Mestre, emerge de novo a sua identidade profunda de crente que proclama a sua fé com prontidão e convicção. 

Tomé traz dentro de si o seu "gémeo". O Evangelho apócrifo de Tomé sublinha esta duplicidade: "Antes éreis um, mas passastes a ser dois" (n.º 11); "Jesus disse: Quando fizerdes dos dois um só, então sereis os filhos de Adão" (n.º 105). Tomé é a imagem de todos nós.Também nós trazemos dentro de nós um tal "gémeo", inflexível e defensor acérrimo das suas próprias ideias, obstinado e caprichoso nas suas atitudes.

Estas duas realidades, naturezas ou "criaturas" (o velho e o novo Adão) convivem mal, em contraste, por vezes em guerra aberta, no nosso coração. Quem nunca experimentou o sofrimento desta laceração interior? 

Ora, Tomé tem a coragem de enfrentar esta realidade. Deixa que o seu lado obscuro, adverso e incrédulo se manifeste, e leva-o a confrontar-se com Jesus. Aceita o desafio lançado pela sua interioridade "rebelde" que exige ver e tocar... Leva-a até Jesus e, perante a evidência, o "milagre" acontece. Os dois "Tomés" tornam-se um só e proclamam a mesma fé: "Meu Senhor e meu Deus!" 

Infelizmente, não é isso que acontece connosco. As nossas comunidades cristãs são frequentadas quase exclusivamente por "gémeos bons" e submissos, mas também... passivos e amorfos! O facto é que não estão lá na sua "totalidade". A parte enérgica, instintiva, própria do outro gémeo, a parte que precisaria de ser evangelizada, não aparece no "encontro" com Cristo. 

Jesus disse que vinha buscar os pecadores, mas as nossas igrejas são frequentadas pelos "justos" que... não sentem necessidade de se converter! Aquele que se devia converter, o outro gémeo, o "pecador", é deixado em casa. É domingo, ele aproveita para "descansar" e confia o dia ao "gémeo bom". Na segunda-feira, então, o gémeo dos instintos e das paixões estará em plena forma para retomar o controlo. 

Jesus à procura de Tomé

Quem dera que Jesus tivesse muitos Tomés! Na celebração dominical, é sobretudo a eles que o Senhor vem procurar... Serão os seus "gémeos"! Deus procura homens e mulheres "reais", que se relacionem com ele tal como são: pecadores que "sofrem" na sua própria carne a tirania dos instintos. Crentes que não se envergonham de aparecer com este lado incrédulo e resistente à graça. Que não vêm para causar boa impressão na "assembleia dos crentes", mas para se encontrarem com o Médico da Divina Misericórdia e serem curados. É destes que Jesus se faz irmão! 

O mundo tem necessidade do testemunho de crentes honestos, capazes de reconhecer os seus erros, dúvidas e dificuldades e que não escondem a sua "duplicidade" atrás de uma fachada de "respeitabilidade" farisaica. A missão precisa verdadeiramente de discípulos que sejam pessoas autênticas e não "de pescoço torto"!... De missionários que olhem diretamente para a realidade do sofrimento e toquem com as suas mãos as feridas dos crucificados de hoje!... 

Tomé convida-nos a reconciliar a nossa duplicidade para viver a Páscoa!
Palavra de Jesus, segundo o... Evangelho de Tomé (n.º 22.27): "Quando fizerdes com que dois sejam um, e fizerdes com que o interior seja como o exterior, e o exterior como o interior, e a parte de cima como a parte de baixo, e quando fizerdes com que homem e mulher sejam um (...) então entrareis no Reino!"

Para a reflexão semanal, proponho a leitura contínua da Primeira Carta de São João.

P. Manuel João Pereira Correia mccj
Verona, 4 de abril de 2024

Para a reflexão completa, ver:
https://comboni2000.org/2024/04/04/la-mia-riflessione-domenicale-la-pasqua-di-tommaso/

P. Manuel João Pereira Correia mccj
p.mjoao@gmail.com
https://comboni2000.org

 

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