quinta-feira, 14 de novembro de 2024

XXXIII Domingo do Tempo Comum (B) Marcos 13,24-32: “Aprendei da figueira” O horóscopo do cristão - Pe. Manuel João- MC

 XXXIII Domingo do Tempo Comum (B)  

Marcos 13,24-32: “Aprendei da figueira”  
O horóscopo do cristão

Chegámos ao penúltimo domingo do ano litúrgico, que terminará no próximo domingo com a festa de Cristo Rei do Universo. Todos os anos, neste penúltimo domingo, a Palavra de Deus convida-nos a levantar os olhos para os horizontes da história, renovando a nossa esperança no regresso do Senhor. Ao mesmo tempo, com a celebração do Dia Mundial dos Pobres neste mesmo domingo, somos incentivados a reconhecer a presença de Cristo nos mais pobres e necessitados.

O trecho do Evangelho de hoje faz parte do capítulo 13 de São Marcos, inteiramente dedicado ao chamado discurso sobre o fim do mundo. O início do capítulo apresenta as circunstâncias deste discurso. Quando saíam do Templo, um dos discípulos chamou a atenção de Jesus para a grandiosidade das suas construções. O Templo, reconstruído por Herodes, o Grande, era realmente magnífico, uma das maravilhas da época. Jesus respondeu: “Vês estas grandes construções? Não ficará aqui pedra sobre pedra que não seja derrubada.” Podemos imaginar o espanto e a perplexidade de todos. Esta profecia cumprir-se-á com a destruição da cidade no ano 70, pelos Romanos.

Enquanto estavam no Monte das Oliveiras, sentados em frente ao Templo, Pedro, Tiago, João e André, os primeiros discípulos chamados por Jesus, interrogaram-no em particular sobre quando e qual seria o sinal de que esta profecia estava para se cumprir. Jesus pronunciou então o chamado “discurso apocalíptico”, o ensino mais longo de Jesus no Evangelho de Marcos. Em conexão com a destruição do Templo e da cidade santa, Jesus fala sobre o fim do mundo e o seu retorno em glória. Esta ligação entre o fim da nação judaica e o retorno do Senhor levou os primeiros cristãos a pensar que o fim era iminente.

Para entender a mensagem do texto, é necessário considerar duas coisas. Em primeiro lugar, o texto é redigido no estilo chamado apocalíptico, difícil de entender para nós, devido à complexidade do seu simbolismo e aos cenários cósmicos, frequentemente esotéricos. “Apocalipse” significa “revelação”. No entanto, não se trata de uma profecia sobre o futuro, como se costuma pensar, mas da revelação do sentido dos eventos da história. Em segundo lugar, este género literário, que floresceu entre o século II a.C. e o século II d.C., não tinha como objetivo assustar, mas sim oferecer conforto e esperança ao povo de Deus em tempos de tribulação e perseguição, anunciando a intervenção de Deus para libertar o seu povo. Poderíamos dizer que a literatura apocalíptica não fala do “fim” do mundo, mas do “sentido” do mundo, isto é, para onde caminha a história.

 

Pontos de reflexão

1. O fim deste mundo já começou!  

“Naqueles dias, depois de uma grande aflição, o sol escurecerá e a lua não dará a sua claridade; as estrelas cairão do céu e as forças que há nos céus serão abaladas.” A perturbação do sol, da lua e das estrelas parece aludir à criação em Génesis 1, como se estivesse prestes a acontecer uma de-criação. Uma referência ao cenário cósmico também aparece na narrativa da morte de Jesus nos Evangelhos sinópticos (Marcos, Mateus e Lucas). Com a crucificação do Filho de Deus, caem o “firmamento” do céu, ou seja, as seguranças e os pontos de referência do homem, e todas as imagens que o homem fazia de Deus. Com a ressurreição de Cristo, inicia-se o processo da nova criação, dos novos céus e da nova terra (2 Pedro 3,13).

2. O fim deste mundo é o objeto da nossa esperança  

“Então, hão de ver o Filho do homem vir sobre as nuvens, com grande poder e glória.” Nós aguardamos esta vinda do Senhor. Proclamamos isso no coração da Eucaristia: “Anunciamos a tua morte, Senhor, proclamamos a tua ressurreição, enquanto aguardamos a tua vinda.” Isso não significa desejar o “fim do mundo” ou uma “catástrofe apocalíptica”, e muito menos tentar adivinhar a hora da sua chegada através dos “sinais” de guerras, terremotos, fomes, perseguições, tribulações, abominações… Estas realidades sempre existiram. Basta-nos saber que tudo está nas mãos do Pai.

“Aprendei a parábola da figueira: quando os seus ramos ficam tenros e brotam as folhas, sabeis que o Verão está próximo.” A figueira anuncia a chegada do verão, a estação dos frutos. Assim é para o cristão, que aguarda com alegria a maturação dos tempos e o encontro com Jesus. O livro do Apocalipse termina com esta resposta do Senhor à oração da Igreja: “Sim, venho em breve! Amém. Vem, Senhor Jesus.”

3. Artífices do fim deste mundo  

“Passará o céu e a terra, mas as minhas palavras não passarão.” Meditando neste Evangelho, o cristão cresce na consciência da provisoriedade da vida e da história. O “fim do mundo” é, afinal, uma realidade de cada dia: todos os dias um mundo morre e um nasce. “Vamos de início em início, através de novos inícios”, diz São Gregório de Nissa. Tudo passa. Apenas duas coisas permanecem: a Palavra do Senhor e a caridade (1 Corintios 13,8).

A nossa espera, no entanto, não é passiva, mas ativa e laboriosa. Estamos envolvidos na preparação da vinda do Reino. Como? Sacudindo o “firmamento” das estrelas e astros que regulam o mundo atual! Sol, lua, estrelas, astros eram divindades no mundo pagão antigo, que governavam a vida dos homens. Basta pensar que cada dia da semana era dedicado a um astro. Os nomes das estrelas e dos astros mudaram, mas o firmamento do nosso mundo continua a ser povoado por deuses: negócios, bolsa de valores, poder, prestígio, beleza, prazer… O “horóscopo” do cristão tem outro firmamento de astros: amor, fraternidade, solidariedade, serviço, justiça, compaixão… Para abalar os alicerces do “velho mundo”, é preciso abalar o “firmamento” que o governa. A tarefa não é nada fácil. Por onde começar? Por nós mesmos: “Não vos conformeis com este mundo, mas deixai-vos transformar, renovando o vosso modo de pensar.” (Romanos 12,2).

P. Manuel João Pereira Correia, mccj

 

 

Sem comentários:

Enviar um comentário