terça-feira, 20 de maio de 2025

A verdadeira novidade é o amor - P. Manuel João Pereira Correia, mccj

 A verdadeira novidade é o amor

Ano C - Tempo Pascal - 5º Domingo

Leituras: Actos 14,21-27; Salmo 144; Apocalipse 21,1-5;

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João 13,31-35: “Dou-vos um novo mandamento: que vos ameis uns aos outros”.

 

Com os dois últimos domingos do tempo pascal, entramos na preparação imediata para as festas da Ascensão e do Pentecostes. São os domingos da despedida. O Evangelho deste domingo e do próximo oferece-nos excertos do discurso de despedida de Jesus aos seus discípulos na Última Ceia. É o seu testamento, antes da sua paixão e morte.

Porquê retomar estes textos precisamente no tempo pascal? A Igreja segue a antiga tradição de ler, durante este período, os cinco capítulos do Evangelho de João relativos à Última Ceia (capítulos 13 a 17), nos quais Jesus apresenta o sentido da sua morte e da sua “Páscoa”.

Além disso, poderíamos dizer que, tratando-se de um legado, o testamento deve ser aberto após a sua morte. Jesus deixa a sua herança, os seus bens, a nós, seus herdeiros. A sua herança por excelência é o mandamento do amor, tema da passagem evangélica de hoje.

 

1. Uma palavra une as três leituras de hoje: NOVO ou NOVIDADE.

 

Na primeira leitura, dos Actos dos Apóstolos, encontramos a notícia contada por Paulo e Barnabé à Igreja de Antioquia, que os tinha enviado em missão: “como Deus tinha aberto a porta da fé aos gentios”;

Na segunda leitura, tirada do Apocalipse, João vê “um novo céu e uma nova terra” e “a cidade santa, a nova Jerusalém, que desce do céu, vinda de Deus”, e ouve a Voz que diz: “Eis que faço novas todas as coisas”;

No Evangelho, Jesus dá-nos “um mandamento novo”.

Vivemos numa sociedade onde predomina o tédio, sobretudo entre os jovens. Precisamos de estímulos constantes, de novidades, para tornar os nossos dias mais atraentes. Infelizmente, muitas vezes confundimos novidade com diversidade. As novidades que nos são propostas são muitas vezes uma reciclagem do antigo, pelo que envelhecem rapidamente, deixando-nos desiludidos e insatisfeitos.

Por outro lado, as verdadeiras novidades assustam-nos porque perturbam os nossos princípios e o nosso modo de vida. Exigem que “nasçamos de novo”, como disse Jesus a Nicodemos (João 3,3).

Se isto é verdade para cada cristão, é igualmente verdade para cada comunidade cristã e para toda a Igreja. A fidelidade à Tradição não pode dissimular a tentação de cair no passado, em tradições antigas e ultrapassadas. A acusação feita à Igreja de estar ancorada ao passado deve fazer-nos questionar a nossa abertura ao sopro inovador do Espírito.

A escuta e o acolhimento da Palavra, que nos propõe a novidade, exigem de nós uma grande abertura de mente e de coração. O perigo é o de nos fecharmos ao novo, o que traz sempre alguns estragos à nossa vida. Pior ainda seria se esta Palavra ressoasse nos nossos ouvidos como “velha”, só porque a ouvimos tantas vezes! Peçamos, pois, ao Senhor que faça de nós “odres novos” para recebermos o seu “vinho novo”!

 

2. Uma nova GLÓRIA

 

“Quando Judas saiu [do Cenáculo], Jesus disse: 'Agora o Filho do Homem foi glorificado, e Deus foi glorificado nele'”.

Ao escutar o Evangelho de hoje, a nossa atenção dirige-se imediatamente para o “mandamento novo”, mas esta novidade é introduzida por uma outra, incompreensível, chocante e escandalosa, porque parece subverter a nossa visão da realidade.

Quando Judas sai para o entregar, em vez de exprimir tristeza e dor, Jesus fala de “glorificação” - e fá-lo cinco vezes. Jesus liga a sua glória, e a glória de Deus, à traição de Judas! De que glória se trata, então? A de ser levantado na cruz, porque a cruz é a manifestação máxima do amor de Deus.

Judas encarna a mentalidade do Messias “vencedor”; Jesus, pelo contrário, manifesta-se como um Messias “perdedor”. O verdadeiro Messias adopta a lógica do amor. “É por isso que o Pai me ama: porque dou a minha vida para a retomar” (Jo 10,17), disse o Bom Pastor no domingo passado.

 

Esta visão invertida da realidade é um murro no estômago quando comparada com a nossa constante busca de “vanglória”. Perguntemo-nos, então: que tipo de glória procuro, nos meus pensamentos, desejos, fantasias e intenções para as minhas acções? O tipo de glória que procuramos revela se temos fé ou não. Pois Jesus diz-nos: “Como podeis crer, vós que recebeis glória uns dos outros e não procurais a glória que vem do único Deus?” (João 5,44).

 

3. Um novo MANDAMENTO

 

“Filhinhos, por mais um pouco de tempo estou convosco. Dou-vos um novo mandamento: que vos ameis uns aos outros”. (Ver também Jo 15,12 e 15,17).

Em que consiste esta novidade?

É “nova” porque não é espontânea nem natural, não nasce do instinto.

É nova porque se caracteriza pela gratuidade e não pela reciprocidade.

É novo porque abole o velho “olho por olho e dente por dente”.

É nova porque ultrapassa a sabedoria do antigo preceito: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Levítico 19,18).

É novo porque agora o padrão do amor é Jesus: “Como eu vos amei, amai-vos também uns aos outros”.

É novo sobretudo porque nunca envelhecerá. O que vive no tempo envelhece, mais cedo ou mais tarde. Mas o que pertence aos “novos céus e à nova terra” não envelhece mais, porque participa da eternidade de Deus.

É novo porque é final e definitivo, escatológico, isto é, do fim. A fé e a esperança passarão, mas só o amor permanecerá (1 Cor 13,13). Porque o amor é a própria essência de Deus: “Deus é amor” (1Jo 4,8). Por isso, já não faz sentido distinguir entre o amor a Deus e o amor aos irmãos, entre o amor “vertical” e o amor “horizontal”, porque o amor é um só.

Este tipo de amor será o critério supremo para reconhecer o discípulo de Jesus:

“Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros.”

 

4. Como obter este novo AMOR?

 

Diz-se que o coração não pode ser comandado. Como, então, adquirir este amor? Contemplando-o na Eucaristia, onde este amor é celebrado. “Fixando o olhar em Jesus” (Hebreus 12,2). Contemplando com amor e ternura o Crucificado, onde este amor se consuma. Ou, nas palavras de São Daniel Comboni, dirigindo-se aos seus missionários:

“Mantenham sempre os olhos fixos em Jesus Cristo, amando-o ternamente e procurando compreender cada vez melhor o que significa um Deus morto na cruz para a salvação das almas. Se, com fé viva, contemplarem e saborearem um mistério de tal amor, serão bem-aventurados por se oferecerem para perder tudo e morrer por Ele e com Ele”. (Escritos, 2721-2722)

 

P. Manuel João Pereira Correia, mccj

 

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